Saudades da Sucam!!

16 de março de 2016, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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Lembrando um pouco da minha infância, veio à memória os “mata mosquitos” da Sucam, instituição criada em 1970, com contingente de homens fardados com uniformes da cor de “toddy”, como falávamos, que visitavam nossas casas, furando as latas, fazendo limpeza dos depósitos de água e borrifando as casas com inseticidas, para eliminar os focos de Aedes, tendo inicialmente como meta combater a malária.

 

Esse mosquito versátil é originário do Egito, daí seu nome. Chegou ao Brasil e em outras regiões tropicais em navios negreiros, traficantes de escravos, no século XVI. A dengue também não existia por aqui, chegou só no século XIX, primeiro em Curitiba, e ninguém sabe qual foi o doente que veio com ela, e o bicho esperto se encarregou de esparramar para todos os lugares.

 

Historicamente, o combate ao bandido remonta ao começo do século XX, às campanhas pioneiras de Oswaldo Cruz contra a febre amarela. Em 1970, foi formada a Sucam (Superintendência de Campanhas de Saúde), que reorganizou os mata-mosquitos, criados e existentes desde o tempo de Rodrigues Alves (1903), espalhados pelo Brasil inteiro, para combater a febre amarela que assolava o Rio de Janeiro, cidade temida por muita gente, e até chamada de “túmulo de estrangeiros” por causa dessa doença.

 

Em 1954, a dengue foi dada como nacionalmente extinta, e em 1955 o Brasil recebeu um certificado internacional de erradicação do vetor, mas reapareceu no Pará em 1967, e no Rio de Janeiro em 1977. O tempo voou e as epidemias se sucederam cada vez mais, e o combate ao bicho, sem os mata-mosquitos de antigamente, não foi o que se esperava. 

 

Em 1990, a Sucam foi extinta, sendo sucedida pela Funasa, e depois dela, os casos de dengue subiram de 100 mil em 1990, para 360 mil em 1998 e 430 mil em 2007, sendo que em 2015 o Ministério da Saúde aponta registros de 1.649.008 casos prováveis. E continuam subindo, com o agravante de agora estar matando mais, já que a forma hemorrágica tornou-se mais frequente. Para piorar, somados a dengue, está ai a febre chikungunya e Zika Vírus, este último que pode ter uma forte relação causal entre a febre Zika e casos de fetos com a microcefalia. Os números são alarmantes com dados nunca registrados antes.

 

A Sucam era o único serviço público disponível em muitos povoados desse nosso Brasil, recrutavam-se interessados e os capacitavam, que facilmente criavam laços de amizade entre as comunidades em que atuavam, conquistando a simpatia, o respeito e a colaboração da população estratégia à qual se deve, portanto, em grande medida, seu sucesso operacional.

 

Funcionava bem porque a Sucam era um órgão de administração direta, as endemias eram pesadas e sempre desenvolveu suas ações de forma verticalizada. Essa instituição não estava subordinada aos administradores locais, porque a responsabilidade dela era traçar, jogar seus contingentes e sufocar a endemia. Essa autonomia em relação aos interesses de políticos locais e regionais era assegurado pelo caráter técnico do planejamento e a qualidade das ações executadas o que, definitivamente a Funasa não herdou.

 

Perguntamos, porque números tão assustadores: Estratégia errada? Interesses locais? Falta de consciência da sociedade? Agentes de Saúde mau treinados, e desmotivados?. Na nossa modesta opinião um pouco de cada!!!

 

O que podemos fazer é muito simples: Eliminar tudo que pode acumular água – água parada é um dos maiores atrativos; vede as caixas d’água e recipientes que guardam a água; e cuide dos potenciais criadouros que não podem ser eliminados.

 

*Valmi Lima – É Engenheiro Sanitarista e de Segurança do Trabalho. Conselheiro do Crea-MT, representante da Aesa-MT. valmisimaodelima@gmail.com