Inflação de alimentos reflete uso de biocombustíveis, diz FMI

18 de outubro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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Entre as razões para a aceleração da inflação de alimentos está a pressão derivada do uso do milho e outros itens para a produção de biocombustível, afirma o FMI – Fundo Monetário Internacional no relatório Perspectiva Econômica Global (WEO, na sigla em inglês). “Os países que miram o núcleo da inflação para suas decisões de política monetária precisam monitorar os preços de alimentos cuidadosamente e responder rapidamente se os movimentos nos preços estiverem ameaçando o alcance das metas de inflação”, adverte o documento.

Cálculos do Fundo indicam que, para o Hemisfério Ocidental, que compreende América Latina e Caribe, o impacto direto dos preços de alimentos no índice cheio de inflação aumentou de 25,6%, registrado no período de 2000 a 2006, para 37,2% nos quatro primeiros meses deste ano. No globo, a contribuição dos alimentos para a inflação aumentou de 26,6%, nos seis anos até 2006, para 36,4% nos quatro meses iniciais de 2007. No caso particular do Brasil, o Fundo estima que a contribuição dos alimentos para a inflação é menor que 25% nos quatro primeiros meses de 2007.

Diante da forte demanda por biocombustível, o FMI estima que a maior produção de etanol nos EUA deve representar 60% do aumento do consumo global de milho em 2007.

Para o Fundo, o aumento do uso de itens alimentícios como fonte de combustível é uma “ocorrência que pode alterar substancialmente a estrutura da demanda” por alimentos. Como os alimentos representam uma parcela significativa da exportação ou importação em vários países, preços mais altos podem ter impacto significativo sobre o resultado da balança comercial.

Segundo o FMI, a política de um determinado país para promover biocombustível “coloca risco adicional para inflação ou crescimento”. Diante do risco de aquecimento excessivo e de avanço dos preços de alimentos em diversos países emergentes, “maior aperto monetário pode ser exigido”.

O impacto sobre crescimento e inflação, estima o FMI, seria mitigado se os EUA e os países produtores de biocombustível da União Européia reduzissem as barreiras à importação do produto derivado de países em desenvolvimento, como o Brasil, onde a produção é mais barata, mais eficiente e menos prejudicial ambientalmente. “Uma mudança assim nas políticas forneceria oportunidade para outros países em desenvolvimento com vantagem comparativa potencial na produção de biocombustível para entrar na indústria”.

No geral, avalia o Fundo, a inflação tem ficado contida nas economias avançadas, mas tem subido em diversos países emergentes e em desenvolvimento, refletindo preços mais elevados de energia e alimentos. Além do uso de alimentos para produção de biocombustível, o FMI acrescenta que a aceleração dos custos dos alimentos também está ligada à condição do clima em alguns países. “Forte demanda tem mantido os preços do petróleo e de outras commodities elevados”.

Doha – O relatório comenta também a Rodada Doha de negociações, afirmando que o seu “progresso lento é profundamente desapontador”. Para o FMI, os principais países deveriam demonstrar “liderança e voltar a energizar o processo”.

O documento revela que os diretores executivos do Fundo manifestam preocupação sobre a falta de progresso na Rodada Doha diante do risco de que isto encoraje medidas protecionistas.

Outros temas que também exigem uma abordagem multilateral, enumera o FMI, são a questão de mudança do clima e a segurança na área de energia. “O aquecimento global talvez seja o maior problema de ação coletiva no mundo, no qual as conseqüências negativas de atividades individuais são sentidos amplamente por outros”.

Para o FMI, a política de energia deveria focar menos em tentar proteger fontes nacionais de energia e mais em garantir o funcionamento regular do mercado de petróleo e outras fontes de energia, encorajando a diversificação de fontes. “Por exemplo, reduzindo barreiras ao comércio de biocombustíveis”.

Fonte: Estadão Online.