Fornecimento suspenso

23 de abril de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos

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Fonte:Diário de Cuiabá

A Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), a estatal boliviana do petróleo, suspendeu ontem o envio de gás natural à Empresa Produtora de Energia (EPE), que opera a usina termoelétrica de Cuiabá, a Mário Covas.

O corte, segundo o governo boliviano e a diretoria da EPE, não está relacionado às negociações entre as duas pontas para composição de um novo contrato de compra e venda do combustível, e sim a um problema interno daquele país que envolve disputa por territórios. De acordo com o diretor-presidente da EPE, Carlos Baldi, existe estoque de gás suficiente para garantir a operação até a próxima semana. “Mesmo que não haja o restabelecimento como prevemos – neste final de semana – temos gás para rodar a próxima semana e ainda a possibilidade de operar a óleo diesel, já que a planta é bicombustível, porém a geração nesta caso é mais onerosa, chegando a ficar de sete a dez vezes acima dos custos com o gás”.

O combustível armazenado nos dutos, segundo a EPE, permite a manutenção da geração atual – 240 MegaWatts – e consumo de 1,2 milhões de metros cúbicos ao dia na próxima semana.

Baldi fez questão de frisar que a interrupção no envio de gás neste momento “é uma infeliz coincidência” que ocorre justamente no momento que em a EPE e a YPFB estão em período de acerto. No último final de semana cogitou-se a possibilidade de suspensão à usina por conta de entraves nas negociações do novo contrato. A divergência estaria na inclusão de nova cláusula que isentaria a estatal boliviana de qualquer punição em caso de não cumprimento das metas de fornecimento acordadas junto à EPE. “A suspensão nada tem a ver com relação comercial e atinge todo mercado. Os boatos de suspensão que foram veiculados não passaram de especulação. O relacionamento com a YPFP anda bom e estamos caminhando”. Indagado sobre a polêmica cláusula quatro, Baldi diz que “não é bem assim. É especulação”.

REAJUSTE – Com relação ao aumento de 253% sobre o preço do gás pago aos bolivianos, Baldi disse que os preços não foram reajustados no último domingo, como era esperado. O aditamento de contrato que homologa o novo valor – US$ 4,20 por milhão de BTU – não está assinado e, portanto vigora US$ 1,19. O novo preço foi acordado em fevereiro entre os presidentes Evo Morales e Luiz Inácio da Silva.

GERAÇÃO – Ontem, a usina gerou 50% de sua capacidade de produção. “Operamos 240 MW por solicitação do Operador Nacional do Sistema, o ONS. A restrição energética é devido ao grande volume nos reservatórios das usinas hidroelétricas. Geramos à medida que o sistema solicita”. A capacidade de 480 MW pode chegar a 520 MW em ciclo combinado de vapor e gás simples.

A EPE tem contrato firme com a empresa Andina para receber 2,2 milhões de metros cúbicos diários até 2019. O gasoduto Bolívia-Mato Grosso com 642 quilômetros de extensão, San Matias (Bolívia) à Cuiabá (Brasil) e tem capacidade para transportar até 7,5 milhões de cúbicos por dia.

DUPLA COINCIDÊNCIA – Há um ano, um problema de deslizamento de terra causou avarias na estação da região do Chago, o que reduziu o fornecimento do insumo à usina. Entre avarias nos dutos e compressores bolivianos e imposições políticas daquele país, a termoelétrica teve a geração interrompida inúmeras vezes no ano passado. Entre agosto e outubro foram cerca de 60 dias com a geração paralisada, período de estiagem no Estado e que a térmica é mais demandada, como reflexo da saída de operação da Usina, 37 mil clientes da concessionária local, Cemat, foram atingidos em setembro por dois blecautes.

REDUÇÃO – Já para os outros clientes bolivianos, como Argentina e o Brasil, está prevista uma redução nas exportações. Como os conflitos reduziram a capacidade de produção do campo San Alberto, explorado pela Petrobras, – que passou de 10 milhões de metros cúbicos para 3,4 milhões – a preferência no abastecimento será para o mercado interno. O fornecimento à Argentina deverá passar de 5 a 1,2 milhão de metros cúbicos diários e para a São Paulo, atendido pela Petrobras, o envio sairá de 24,6 milhões para 24 milhões de metros cúbicos.

O presidente da estatal YPFB, Sebastián Daroca, informou que estavam suspensas as exportações a Cuiabá – 1,2 milhão de metros cúbicos – e para São Paulo pela British Gas, por meio da empresa brasileira Comgás.

De acordo com informações da Folha On Line, os prejuízos com a suspensão das exportações são estimados US$ 980 mil por dia para a Bolívia. Se o campo San Alberto efetivamente suspender sua produção, os danos podem subir para US$ 2 milhões.

PROBLEMA – Manifestantes bolivianos ocuparam uma fábrica da companhia Transredes, filial da anglo-holandesa Shell e a britânica Ashmore. Baldi explica que a interrupção foi inevitável porque a válvula que interliga o sistema está localizada na região de conflito. As províncias Gran Chaco e O’Connors brigam pelos direitos territoriais sobre o campo Margarita, que contém 20% das reservas de gás da Bolívia.