Avanço da soja motiva projetos em MA, PI e TO

6 de março de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos

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A crescente demanda internacional por soja e os problemas com importadores decorrentes do plantio na região Amazônica proporcionaram uma explosão do cultivo no Maranhão, Piauí e Tocantins, que passaram a ser conhecidos nesse mercado como “Mapito”, e mantêm a região como uma das mais promissoras do mundo para o avanço do grão.

A partir da safra 2000/01, quando todo o país vivenciou uma nova expansão da produção agrícola após a desvalorização cambial de 1999, a área plantada de soja nos três Estados cresceu 96,2%, de 430 mil para 834,9 mil hectares na atual safra, conforme a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A área nacional cresceu 47,3% no período, para 20,58 milhões de hectares. No Mato Grosso e no Paraná – os dois principais Estados produtores do país – , a expansão também foi menor, de 60,5% e 40,8%, respectivamente.

Mesmo nas últimas três safras, quando os sojicultores tiveram problemas com quebra de safra e preços em queda, a redução de área nos três Estados foi de 9%, menor que os recuos nacional (11,7%), paranaense (10,9%) e mato-grossense (18%).

Para especialistas, além da questão ambiental, a melhoria logística – com a conclusão das obras nos portos Ponta da Madeira e São Luís – e o crescimento da economia no Norte e Nordeste estimularam a expansão de área com soja nos três Estados e, assim, a instalação de indústrias na região, como Bunge, Cargill, Agrenco e Grupo Algar.

A maior parte dos investimentos realizados e projetos em fase de estudos concentra-se no Maranhão, muito em função dos aportes em logística no Estado desde 2004, com a ampliação da capacidade de escoamento de grãos pelo porto de Itaqui, em São Luís, e da melhoria da malha logística que leva os grãos até o porto, como a rodovia Transcerrado (que corta Piauí e Maranhão), da Ferrovia Norte-Sul, que liga Goiás, Tocantins e Maranhão, e da Estrada de Ferro Carajás, da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), que sai do Pará.

“O porto de Itaqui (MA) está a seis dias de navegação mais perto da Europa que qualquer outro porto do país. E o custo de frete é menor em função da distância entre Centro-Oeste e Maranhão, e da opção de uso da malha ferroviária”, diz Antonio Iafelice, presidente da Agrenco. A empresa investiu US$ 10 milhões nos últimos três anos em silos para armazenar soja em Balsas (MA).

Agora, a Agrenco estuda investir US$ 150 milhões em um complexo no Maranhão, para esmagamento de soja e produção de biodiesel e etanol, utilizando grãos produzidos no Maranhão, Tocantins, Piauí e norte do Mato Grosso. “Essa região pode quadruplicar a produção de soja em três safras facilmente, aproveitando áreas abertas pela pecuária”, prevê.

O potencial da região também levou a ABC Inco, do Grupo Algar, a investir R$ 220 milhões em um complexo industrial em Porto Franco (MA), com capacidade para processar 650 mil toneladas de soja por ano e que começa a operar em abril. A empresa fará investimentos em terminais no porto de Itaqui e em uma usina de biodiesel, entre 2007 e 2008. “A região do ”Mapito” tem como vantagem a proximidade para entrega de produtos ao Nordeste”, afirma Luiz Gonzaga Maciel, presidente do grupo Algar.

João Batista Fernandes, superintendente de promoção e fomento rural da Secretaria de Agricultura do Maranhão, diz que a expansão do plantio de soja no Estado acelerou com a vinda de produtores do Sul do país, que aproveitaram os preços mais baixos da terra para cultivar a oleaginosa. “Hoje o Estado é o segundo maior produtor de soja do Nordeste, depois da Bahia”. Ele acredita que o avanço da produção de biocombustíveis estimulará o aumento do plantio de soja e também de cana, que desde 2000 cresceu 75,8%, para 37 mil hectares. Conforme ele, a Cargill, que já possui armazéns em Balsas (MA), estuda implantar uma unidade de esmagamento no município. A empresa confirmou. Segundo fontes do setor, a Bunge também estuda implantar uma esmagadora no Maranhão, mas a companhia não confirmou.

Em 2003, a Bunge investiu R$ 420 milhões em uma usina de esmagamento em Uruçuí (PI), com capacidade para processar 2,2 mil toneladas de soja por dia. Adalgiso Telles, diretor corporativo da Bunge, diz que a escolha deveu-se à proximidade com o porto de Itaqui. “A região possui 4 milhões de hectares cultiváveis, enquanto no Centro-Oeste a expansão da soja gerou um impacto ambiental difícil de recuperar”.

Conforme Carlos Augusto da Cunha, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Piauí, o Estado tem sido alvo de estudos para investimentos em soja, em função do porto de Itaqui e da Ferrovia Transnordestina, que ligará o Piauí a Pernambuco e Ceará.

No Tocantins, o investimento em soja tem se dado sobretudo nas lavouras, conforme Brasil Américo Gonçalves, assessor técnico da Secretaria de Agricultura do Estado. O plantio no Estado cresceu 144% desde 2000, para 70,8 mil hectares. “Hoje 70% da produção é exportada e 30% é vendida para outros Estados”. A expectativa é que a produção também cresça, para atender a Asa Alimentos, que vai elevar a produção de frangos de 6 mil para 40 mil frangos por dia, em Aguiarnópolis, e da Frangonorte, que instalará uma granja em Paraíso neste ano.

Fonte: Valor Econômico.