Engenheiro Têxtil de Campo Verde compartilha sua experiência na indústria

28 de agosto de 2017, às 9h12 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos

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O engenheiro têxtil Antônio Marcos do Nascimento, de 42 anos, nasceu em Apucarana, no Paraná e com 04 anos mudou-se para Ivaiporã (PR) onde se criou e permaneceu até os 18 anos, quando foi estudar Engenharia Têxtil. Antônio Marcos veio para Mato Grosso para auxiliar no projeto de construção de uma indústria de fios, sendo o responsável peloprojeto industrial, negociação de máquinas e equipamentos, além da montagem e funcionamento da indústria. Atualmente, ele a gerencia e, sua vinda para o Estado, se deu a convite de pessoas que o conheceram no seu primeiro emprego, após sua graduação.

1) Onde fez sua formação em engenharia têxtil, por que escolheu esta área e, quando se formou?

Me formei em 1998 na Universidade Estadual de Maringá – UEM, na cidade de Goioerê – Paraná. Escolhi essa área porque um tio havia trabalhado na Industria Têxtil em Apucarana e, eu morava ao lado dessa indústria, então, escutava muito falar sobre a área têxtil quando criança. Porém, quando terminei o 2ºGrau estava procurando uma faculdade em Engenharia Mecânica, porque desde criança trabalhei com meu pai, Antonio Correa do Nascimento (seu Bitó), na sua oficina de funilaria em Ivaiporã (PR). Mas as faculdades de engenharia mecânica eram muito longe e as condições financeira eram poucas. Olhando o Guia do Estudante vi a Engenharia Têxtil, fiz o vestibular somente por experiência, mas passei e comecei a estudar. Peguei gosto e me especializei nessa área. Hoje tenho a graduação em Engenharia Têxtil, pós-graduação em Administração de Produção, Mestrado em Engenharia da Produção e, atualmente curso a faculdade em Gestão de Cooperativa, pela Unicesumar.

2) Como foram os primeiros anos no mercado de trabalho, após sua formação acadêmica?

Foram ótimos, trabalhei numa excelente empresa, que tenho saudades até hoje – Fiação Copasul, onde conheci meu mestre na área têxtil, Taguti, com quem aprendi muito e Carlos Menegati, outro mestre, que era meu diretor e, atualmente é meu superior direto. Foi muito bom. Contudo, financeiramente foi muito difícil no início, porque o ganho era pouco, como geralmente é para todos quando se inicia. Era tão pouco que eu tinha que dar aula a noite para poder completar a minha renda. Após meu primeiro emprego em Mato Grosso do Sul, fui para Santa Catarina, depois para o Paraná, até me convidarem para vir para o Mato Grosso para participar do grande projeto de instalação da indústria de fios têsteis que gerencio hoje.

3)  Que tipos de trabalho podem ser desenvolvidos por um engenheiro têxtil?

Um engenheiro têxtil pode atuar em diversas áreas: desde a fibra até a confecção da roupa. Os segmentos que pode atuar são imensos, sendo: Algodoeira, Fiação, Malharia, Tecelagem, Tinturaria, Acabamento, Talharia, Confecção, Bordado, Estamparia de Tecido, Desenvolvimento de Produto Têxtil, PCP. Dentro desses segmentos, há processos diferentes, dependendo do tipo de fibra a ser utilizada, como fibra natural, sintética ou artificial. Além disto, este engenheiro  pode atuar no setor industrial e comercial, em qualquer segmento têxtil, seja na indústria têxtil ou até na fabricação de máquina têxtil.

4) Atualmente que atividades desenvolve e onde?

Hoje atuo como gerente de uma Industria de fio Open End (Fiação Open End), que produz mensalmente 1.100 tonelada de fio têxtil 100% Algodão, na cidade de Campo Verde. MT.

5)  Este ano Mato Grosso baterá o recorde na produção de algodão, sendo o maior produtor de pluma, responsável por dois terços do algodão colhido no pais. Contudo, nosso Estado ainda é incipiente na parte da indústria têxtil. Como o sr. vê isso hoje e quais as expectativas futuras para esta indústria aqui?

Hoje nosso Estado é forte na agricultura, em outros estados como Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina há muita indústria têxtil, coisa que quase não possuímos. Porém, alguns empresários destes outros estados que citei já estão observando o nosso, para instalar indústrias e já existem alguns empresários se instalando aqui. Nós temos a matéria prima em abundância, o que ajuda muito na questão logística e minimiza dinheiro parado em estocagem de algodão, pois quem está se instalado aqui não precisa estocar muito algodão. Enquanto nós, no Mato Grosso, temos algodão estocado por 10 dias, outra fiação do Sul mantém estocado de 60 a 90 dias, é “muito dinheiro parado”. Contudo, nós temos um problema que os outros estados não têm na mesma proporção, que é a energia elétrica. A energia no Estado não é estável, varia muito, o que faz cair a produção e provoca a queima de componentes elétricos e eletrônicos das máquinas, um prejuízo enorme para uma indústria. É o que muito empresário questiona na hora de instalar indústrias aqui. Mas acredito que com uma força política grande, com incentivos, futuramente Mato Grosso poderá ser um polo têxtil no país, pois agregamos valor no algodão, ao invés de vende-lo em fardo, podemos vender algodão transformado em fio  ou roupa pronta..

6) Quais são os maiores desafios que este setor enfrenta hoje para poder expandir-se?

São vários, mas o maior problema são as taxas de impostos;  também a importação de roupa pronta da China; o câmbio do dólar e do euro, pois muitas maquinas e peças do setor vem do exterior, além da energia cara e de má qualidade.

7) Para os recém-formados na área, que conselhos o sr. deixaria?

Muita perseverança, se especializar na área que escolher dentro do ramo têxtil, porque o crescimento é gradativo. E procurar registrar-se no CREA para que a categoria se fortaleça, assim como o Conselho.

8) Hoje o CREA-MT não tem nenhum representante da área têxtil ocupando uma de suas cadeiras, situação que também reflete a inexistência de uma entidade de classe que represente esta modalidade da engenharia. Como o sr. vê isto?

Acho péssimo. Esse é o maior problema do engenheiro têxtil, estar migrando da área após sua formação. Por exemplo, na construção de um prédio de uma indústria têxtil é obrigatório ter um engenheiro Civil, mas para funcionar essa mesma indústria têxtil, em alguns lugares não se exige um Engenheiro Têxtil. Se cobra da empresa em construção o engenheiro civil, mas não cobram um responsável técnico da área têxtil, quando a mesma está funcionando. Anualmente, no Brasil, formam aproximadamente 70 alunos de engenharia têxtil, mas muitas indústrias não possuem nenhum engenheiro têxtil. Precisamos urgentemente ter não só um, mas sim, vários representantes da engenharia têxtil, nos CREA´s de todos os estados.

9) De que forma o CREA pode contribuir mais com os profissionais que atuam na sua área?

Fiscalizando mais as indústrias têxtis no Brasil, iniciando nos polos têxtis de Santa Catarina, São Paulo, Paraná, estados do Nordeste, Minas Gerais, Goiás, exigindo que as mesmas possuam um engenheiro têxtil como responsável técnico, vinculado ao CREA. Assim como é feito com as categorias de Civil, de Segurança, Agronomia, etc.