História se perde em ruínas

1 de setembro de 2022, às 14h01 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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O conforto da luz elétrica só chegou em Cuiabá em 1929, com a inauguração da Usina Casca 1. A estrutura foi construída na Comunidade Rio da Casca, em Chapada dos Guimarães. À época, os governantes tinham o desafio de modernizar a capital, que há pouco completara 200 anos. Assim se construiu a primeira hidrelétrica de Mato Grosso, erguida para substituir a energia a vapor. Hoje, pouco mais de 100 anos depois, o obstáculo é outro: manter a história viva. Com o abandono do prédio, parte da história do Estado e da Capital está virando ruína.

A estrutura foi desativada em meados da década de 60. Em 2009 o prédio foi tombado como patrimônio histórico e cultural, mas segue negligenciado. A área, que pertencia a Centrais Elétricas Mato-grossenses, antiga Cemat, passou a ser gerenciada por empresas privadas após a privatização. Hoje, pertence à Enel Brasil. A empresa produz energia nas usinas Casca Il e Casca I ll, ainda em atividade na região.

Para os moradores da comunidade, o prédio da usina e todo o complexo ao redor – incluindo o Chalé dos Governadores – poderia ser usado com fins turísticos. A proposta é a criação de um museu da energia.

“É o local perfeito para criação de um museu que conte a história da energia”, afirma o geólogo e professor da Universidade Federal de Mato Grosso, Caiubi Kuhn. Chapadense, ele defende a utilização do complexo como um importante polo de desenvolvimento de turismo e educação”.

É ele quem mostra os sinais do descaso com o prédio e com a história do local. Sem cuidado, a vegetação nativa toma conta do prédio. Além da construção original, a estrutura ainda abriga muitos dos equipamentos originais. Também abandonados estes aparatos já foram alvos de vândalos que invadiram o local à procura de cobre. Sinal da desimportância, as marcas das invasões estão por todos os lados: um dos transformadores no chão, peças soltas espalhadas pelo caminho, escadas usadas para retirar pedaços de ferro.

Mas quem poderia fazer investimentos para viabilizar tal projeto? “O poder público por meio do Governo do Estado e da Assembleia Legislativa, pode com certeza ser um dos responsáveis por viabilizar a recuperação e operacionalização deste complexo”, defende Caiubi.

Local garante um roteiro incrível a turistas

Sentar às margens do Rio Casca e tomar um café depois de visitar o museu parece um bom programa. O passeio ainda pode ser finalizado com um banho de cachoeira ou de rio. Antes a programação inclui uma passada no Chalé dos Governadores, casa de passeio dos chefes do Executivo em Chapada dos Guimarães e local de decisões políticas.

Walter Aguiar, engenheiro eletricista e conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-MT), também defende esse roteiro com a criação de um museu na área abandonada da Usina Casca I.

Para ele, a reativação passa ainda por um viés histórico-educacional para receber estudantes do curso de engenharia elétrica. “É um local que pode receber a visita técnica de alunos para que eles vejam que a engenharia não é só técnica, mas também histórica para que saibam o contexto ao qual estamos inseridos”.

Hoje formado, o engenheiro visitou a área ainda durante a graduação. Na época, a usina já estava desativada e padecia com a negligência. Segundo Walter, a história da usina se cruza com a história do estado. Ele ainda considera o local como berço da história de Mato Grosso e de políticos e personalidades. “Essa história construiu grandes personalidades do nosso estado, a exemplo do governador Mauro Mendes e do deputado estadual Eduardo Botelho, ambos engenheiros eletricistas que possivelmente visitaram a usina em funcionamento” (AS).

Fonte: Jornal A Gazeta