SPA Construtivo
21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
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Adilson Luiz Gonçalves, Engenheiro, Professor Universitário e Articulista. E-mail: algbr@ig.com.br. Em www.engwhere.com.br/revista
O mundo evolui, mas, às vezes, também retrocede. Nossos antepassados aprenderam, sentindo na própria pele, literalmente, como construir aproveitando os materiais disponíveis e desenvolvendo técnicas para melhor adequá-los ao meio-ambiente local. A análise das principais características de construções antigas, de várias regiões do mundo, demonstra que esse empirismo gerou resultados bastante eficientes, que, teorizados e sistematizados, hoje integram os conceitos da chamada “Arquitetura Bioclimática”. Infelizmente, eles andaram esquecidos por muitos anos, preteridos por concepções arquitetônicas ou empresariais, que privilegiavam mais a forma e o lucro, que a funcionalidade e conforto ambiental. O resultado foi a produção, em larga escala e por vários anos, de torres, “caixotes” ou “esculturas”, cuja preocupação alternava entre o mais barato e discreto, e o mais caro e chamativo possíveis. Ao mesmo tempo, ocorreu um distanciamento técnico progressivo entre os principais atores do processo: arquitetos e engenheiros; agravado pela inflação de empreendedores leigos no mercado da construção civil. Os projetos passaram a ser importados ou, simplesmente, copiados. A única semelhança entre esses extremos consistia na falta de conforto ambiental, compensada, por quem podia pagar, por um elevado e progressivo consumo de energia.
Só que um conceito não invalida, em absoluto, o outro! Tanto que, hoje, a evolução tecnológica, tanto de materiais quanto de sistemas, aliada às preocupações ambientais, tende a reaproximar técnicos e empreendedores. A nova meta é conciliar estética, funcionalidade e eficiência energética e, principalmente, custos de produção e manutenção racionalizados. Em suma, o mercado tende ao BBB: Bom, Bonito e Barato, com algumas variantes de estilo.
Mas… E as construções antigas? Dinamite nelas?
Bom, em alguns casos até que mereciam, só que, em tempos de Bush e Bin Laden, explosões em série não seriam muito bem recebidas… Mas para tudo tem um jeito, que vem na forma de técnicas de atualização estética e tecnológica de edificações. O “retrofit” – como é conhecido – pode corrigir falhas de concepção, bem como agregar novos materiais e tecnologias ao imóvel. Assim: fachadas podem ser incrementadas com sistemas que reduzam a transferência de calor para os ambientes internos; instalações elétricas arcaidas podem dar lugar a cabeamentos estruturados; vidros e películas podem aproveitar, convenientemente, as diferentes radiações solares; as águas servidas podem ser recicladas e as águas de chuva aproveitadas; sistemas inteligentes podem auxiliar na segurança e economia de recursos; e, por aí, vai…
Isto representa um enorme salto de qualidade! Só que na construção civil, como nas dietas para emagrecimento, o cardápio deve ser balanceado e personalizado. Afinal, não se trata de dar, apenas, “um banho de loja” na edificação ou leva-la ao palácio dos espelhos. Trata-se de um SPA construtivo, que envolve estudos multidisciplinares e integrados, além de exigir atualização constante de conceitos, técnicas, equipamentos e materiais. Caso contrário estaremos incorrendo no mesmo erro de repetir fórmulas ou modismos, de resultado efêmero e impacto negativo no mercado.
O cliente também muda de perfil: sai o empreendedor e entra o condômino!
Com essas variáveis, só há duas maneiras de justificar o dispêndio necessário: valorização do imóvel ou economia operacional. Mesmo assim, a decisão ainda depende do período de retorno do investimento. No caso do “retrofit”, ambos podem ser conciliados, otimizados e “bem vendidos” mediante bons projetos.
Resumo da ópera: Estamos diante de um imenso, ávido e ainda pouco explorado mercado. Para atende-lo é preciso saber trabalhar em equipe e estar atualizado com o “estado da arte”, para melhorar o estado da obra do cliente.
Materiais e sistemas inteligentes e econômicos estão à disposição! Eles podem, até, ser importados ou copiados. Mas a criatividade e inteligência dos técnicos têm que ser nossas?