Professor da Unicamp prevê mercado amplo para projetista de máquina agrícola

25 de setembro de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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Das mãos dos projetistas brasileiros de máquinas agrícolas sairão as melhores máquinas e implementos para o cultivo de cana-de-açúcar no mundo todo. A previsão é do professor da Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Oscar Antonio Braunbeck, que calcula que em 20 anos a área de engenharia do país superará os projetos das multinacionais do ramo.

Por enquanto, a maior demanda para os formandos em engenharia agrícola ou mecânica está na adequação de projetos das empresas globais às características brasileiras, informa o professor associado do Departamento de Engenharia Rural da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), José Paulo Molin.

“Nós temos um bom setor de indústria de máquinas e implementos no Brasil e quem domina os projetos de automotrizes (com motor, como trator e colhedoras) são as empresas transnacionais, como a Case (do grupo CNH). Infelizmente, os engenheiros daqui não têm grande autonomia na concepção de projetos novos no país para o mundo. Mas, mesmo assim, há campo de trabalho”, relata Molin.

O professor Braunbeck atribui a ausência de engenheiros projetistas nas plantas brasileiras das multinacionais ao sistema de comercialização das máquinas produzidas por elas. “As empresas trazem projetos de fora e fazem pequenas adaptações aqui porque têm uma rede mundial de revendas. Então é interessante ter o mesmo produto no mundo todo. Logo, os projetos brasileiros não devem surgir nas grandes empresas”, afirma Braunbeck.

Ele aponta três fortes motivos para que as gigantes em máquinas agrícolas se curvem a projetos que, em sua maioria, são desenvolvidos no Brasil dentro das universidades. “Eu diria com muita certeza que precisamos muito mais de projetos brasileiros do que meras adaptações. Temos uma máquina que é importada e que todo mundo usa que é a colhedora de cana. No Brasil ela é muito cara, perde-se muita cana e compacta o solo, três fatores fortemente negativos para toda a cadeia produtiva”, relata o professor da Unicamp.

Para Braunbeck o Brasil está ganhando espaço no projeto de máquinas agrícolas com o desenvolvimento da área acadêmica. “Historicamente nós não tivemos curso de graduação em engenharia agrícola até 1970. Antes disso, esses profissionais eram voltados à área biológica e não atuavam na área de projetos de máquinas”, afirma.

A Esalq não tem formação em engenharia para projeto de máquinas agrícolas, mas forma profissionais para teste e adequação das máquinas. A Unicamp oferece a disciplina dentro do curso de engenharia agrícola.

Dicas
O vice-presidente da Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil (Confaeab) e conselheiro do Crea-SP (Conselho de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de São Paulo), José Levi Pereira Montebelo, aconselha os interessados pela área de projetista a cursar a engenharia voltada às ciências humanas, e não exatas.

“Isso porque, posteriormente, o engenheiro poderá fazer uma especialização na área agrícola, botânica, entre outras. Diante do mercado neoliberal e globalizado e diante da necessidade de ver a cadeia como um todo, essa formação básica mais eclética permite um caminho muito mais fácil na vida profissional”, diz Montebelo.

No caminho da especialização depois da graduação, ele critica o desmembramento da engenharia em outras graduações, como florestal e ambiental. “Há um conflito de atividades”, afirma Montebelo.

Fonte: Jornal de Piracicaba (SP)