Meteorologista fala de temperaturas baixas para Mato Grosso
14 de janeiro de 2016, às 13h38 - Tempo de leitura aproximado: 11 minutos
Na contramão das altas temperaturas registradas em 2015, o professor e pesquisador da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), PhD em Meteorologia, pós-doutor em Hidrologia de Florestas e também representante dos países da América do Sul na Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Luiz Calos Molion, afirma que não somente Mato Grosso, mas o clima em todo o planeta deve baixar.
O professor que possui mais de 40 anos de experiência em estudos do clima no planeta, esteve em Cuiabá participando de evento na FAMEVZ/UFMT realizado em outubro do ano passado. A equipe de jornalismo do Crea-MT aproveitou para entrevistá-lo sobre o clima de Mato Grosso, e, sobre outra polêmica defendida por Molinon, a tese de que o mundo não está sofrendo aquecimento global, mas sim um resfriamento e que as ações do homem não interferem nas mudanças climáticas do planeta.
Confira a entrevista completa a seguir ou assista a versão da entrevista para a TV Crea no youtube.com/creamatogrosso
CREA: Professor Molion, o senhor defende a tese de que o mundo não está sofrendo aquecimento global, mas sim um resfriamento global. O senhor poderia explicar sobre essa tese?
MOLION: Nesses últimos 200 anos de idade que nós temos que realmente é muito pouco se você considerar que o planeta têm 4,6 bilhões de anos de existência, duzentos anos de idade é muito pouco para a gente entender o que ocorre com o clima, mas nesses últimos 200 anos, a gente tem observado que existem ciclos que são comandados pelo Oceano Pacífico basicamente, ciclos de 25 a 30 anos de aquecimento e 25 a 30 anos de resfriamento.
Mais recentemente nós passamos por um período entre 1946 até 1976 em que houve um resfriamento global. O curioso é que no início da década de 1970, o que se falava na grande mídia da época como a revista Time, Magazine e The News Week de 1970 até 1977, vira e mexe eles colocavam na capa da revista “The big freeze”, quer dizer, “Estamos indo para uma nova era glacial”. Até aqui no Brasil se falou, teve um artigo do Estadão de 30 de junho de 1974, onde o professor Giacaglia dizia que estamos indo para uma era glacial.
Mas houve uma virada na temperatura do Pacífico, nós não sabemos exatamente por que. O Pacífico estava permanecendo frio e de repente, em 1976 ele virou para quente. E nesse período que o Pacífico se aqueceu mais, o Pacífico Tropical, ocorreram vários fenômenos El Niño. Como vocês se recordam, o El Niño é aquele aquecimento que dá nas águas do Pacífico e quando ocorre um El Niño, o Pacífico libera uma quantidade enorme de calor para a atmosfera, porque são milhões de Km², 50 milhões de Km² que ficam superaquecidos.
Ninguém sabe exatamente o porquê isso acontece, mas o fato é que a partir de 1976 ocorreu uma série de El Niños muito forte e esse El Niños forneceram todo esse calor para a atmosfera e a temperatura global começou a aumentar. Não é que não houve aquecimento, houve um aquecimento entre 1976 e 1998, mas foi natural, não foi produzido pelo homem.
Depois de 1998, que foi o último grande El Niño, aí o Pacífico começou a esfriar lentamente. Então está baseado nisso, ao fato desses ciclos longos, que se você pensar, entre um resfriamento e um aquecimento, são cerca de 60 anos e 60 anos é uma existência humana, as gerações não se recordam disso porque a base de dados é pequena.
Então, analisando esse comportamento do Pacífico, mas por que o Pacífico? Simplesmente, a gente vive em um planeta cujo a superfície é coberta por 71% de oceanos . A Terra tem 510 milhões de Km² de superfície, 361 milhões de Km² são oceanos e o Pacífico é o maior deles. O Pacífico sozinho ocupa 35% da superfície terrestre e se você somar todos os continentes dá 29%. Então, quando o Pacífico muda a sua temperatura, que nós não sabemos exatamente porque, como a atmosfera é aquecida por baixo, o ar em contato com a superfície, se a superfície maior é água e muda a temperatura desses oceanos, muda o clima. Como é persistente, nós estamos falando em 25 a 30 anos de aquecimento, 25 a 30 anos de resfriamento, vai então persistir sobre um certo período.
Em 1998, foi o último grande El Niño, de lá pra cá, nós temos percebido e os dados mostram isso, hoje nós temos mais de quatro mil boias espalhadas pelo oceano todo, que mostram que os oceanos estão resfriando. Baseado nisso, é que eu tenho defendido a hipótese de que estamos indo para um resfriamento global e não um aquecimento global.
CREA: As ações do homem como a emissão de CO², influenciam nessas mudanças climáticas?
MOLION: É o que a mídia bate, dizendo que o homem emitindo carbono, aqui no Brasil seria o desmatamento, particularmente em estados como o Mato Grosso, Tocantins, Amazonas e Pará, que o desmatamento e as queimadas emitiriam carbono. No caso do Brasil, 60 a 70% das nossas emissões viriam das queimadas. No mundo como um todo, são mais os processos industriais, em particular, a geração de energia elétrica, que é a base de petróleo. Hoje 80% da energia elétrica gerada no mundo é devido a queima de carvão mineral e de petróleo, essas atividades humanas emitem carbono.
Na minha opinião, o gás carbônico, ele não tem efeito que seja mensurável. Se você pegar uma molécula de gás carbônico, ela absorve a radiação infravermelha, então a história do efeito estufa, seria que entra a radiação vinda do sol, a radiação vinda do sol aquece a superfície e a superfície emite a radiação chamada de onda longa infravermelha e seria essa radiação que é absorvida pela molécula de CO². Que segundo a hipótese que veicula por aí, então o CO² aquecido emitiria de volta a radiação e manteria a superfície aquecida.
Ocorre que a física quântica demonstra que quando o CO² absorve a radiação infravermelha ele absorve por vibração e rotação e que quando ele faz isso, ele se choca com as outras moléculas de nitrogênio e oxigênio que são a grande maioria e transfere a energia que ele absorveu por choque.
Se o CO² ao absorver a radiação infravermelha, ele transfere para as moléculas de nitrogênio e oxigênio por meio de choque, ele não vai poder emitir. Então, quanto mais CO² tiver na atmosfera, é até melhor, porque no fundo, as plantas fazem fotossíntese com CO², se tiver mais CO², a produtividade das plantas aumenta porque elas vão absorver mais CO² e a fotossíntese vai ser mais eficiente.
Pelo ponto de vista de temperatura global a contribuição do CO² é ínfima, não dá nem para medir, porque a concentração de CO² na atmosfera é 0,04% enquanto se têm 78% de nitrogênio e 21% de oxigênio. Como a concentração de CO² é pequena, muito pequena, não dá para medir o impacto que ele teria ao absorver a radiação infravermelha e transferir na forma de choque. Por outro lado, na agricultura, como a planta faz fotossíntese com CO², quanto mais CO² tiver, mais eficiente à planta se torna.
Já têm mais de 1500 relatórios publicados que mostram que quando você dobra a concentração de CO² na atmosfera, a produtividade das plantas aumenta entre 30 a 60%. Portanto, os processos das atividades humanas emitindo carbono para a atmosfera, na realidade, ele é benéfico e não interferem na temperatura global.
CREA: O Mato Grosso é um estado forte em agricultura e pecuária. Essas atividades influenciam no clima da região?
MOLION: Não, Porque o clima da região é ditado pelas condições globais e como eu disse 71% do nosso planeta é coberto de oceanos e são os oceanos os grandes comandantes. Nós temos a fonte primária que é o sol, que é a fonte de energia, nós temos os oceanos que ocupam a maior parte da superfície terrestre e que redistribuem esse calor vindo do sol.
Localmente essas atividades podem ter alguma influência, mais particularmente na chuva que cai, não na chuva em si, porque a umidade que vem e que produz a chuva aqui, ela vem do Oceano Atlântico, mas depois que a água caiu depois que ela está no chão. Aí a agricultura, mesmo com plantio direto, pode compactar as camadas inferiores do solo e fazer com que a infiltração de água no solo seja menor e o escorrimento superficial dessa água seja maior. Então há uma modificação na parte superficial do ciclo hidrológico, não na produção de chuva.
Esse talvez seja o maior impacto que o homem possa ter, porque no momento que há um maior escorrimento superficial da água da chuva, também há maior erosão. Eventualmente essa chuva pode levar mais partículas de solo para os rios e assorear os rios e mudar a qualidade da água, da vida aquática e de todos os animais que dependem dessa vida aquática. Esse é o grande impacto que o homem pode ter localmente, mas globalmente, as ações humanas não têm impactos nenhum no clima.
CREA: O que as previsões meteorológicas contribuem para a agricultura?
MOLION: A agricultura é uma atividade em que você tem que ter um planejamento de longo prazo, o ideal seria que nós conseguíssemos prever no mínimo com seis meses de antecedência, para planejar a safra e saber como vai estar o clima, mas infelizmente não se consegue fazer isso.
A previsão climática é muito difícil. Hoje ela é feita com modelos matemáticos, que usam supercomputadores e se faz a previsão para o clima do mundo como um todo e infelizmente não têm acertado, porque os modelos em si não têm os principais processos físicos que controlam o clima da Terra e as interações são muito complicadas. Como por exemplo, o ciclo hidrológico, formações de nuvens e chuva, é um negócio muito complicado de se modelar, de se fazer.
Então, os modelos infelizmente não têm acertado, nós gostaríamos muito ter uma previsão de 3 a 6 meses de antecedência, mas quando muito, conseguimos uma boa previsão com 24h, 70% de acerto. Talvez com 48h ainda, mas já cai para 60% de acerto.
Mas quando aparece alguém tentando dizer “o que vai acontecer ate o ano de 2100?”, não confie nisso, por que os modelos não têm dentro deles os processos físicos que controlam o clima global, modelos usam cenários futuros, por exemplo, de emissão de gás carbônico que são pensados pela mente humana, ninguém sabe o que vai acontecer então os cenários são fictícios, eles saíram da mente de alguém. Se os modelos não são bons se os cenários são fictícios, os resultados desses modelos são fictícios também, então não se deve usar resultado de modelo parta se planejar as atividades humanas no futuro.