Meteorologia: a ciência que contribui para a sustentabilidade

23 de março de 2012, às 12h51 - Tempo de leitura aproximado: 5 minutos

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Quando se fala em meteorologia, a primeira relação que se faz é com a previsão do tempo, se vai chover ou fazer sol. Mas as atividades deste campo abrangem outros setores, como o energético, de recursos hídricos, agrícola, de aviação, saúde e da defesa civil, conforme explica o doutorando em Meteorologia pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), Vinícius Capistrano. Hoje, 23, comemora-se o Dia Mundial da Meteorologia e o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso (Crea-MT) parabeniza os profissionais que atuam nessa área e aproveita a oportunidade para mostrar as possibilidades de atuação em Mato Grosso e no Brasil.

Para Capistrano, a Meteorologia pode ser definida como uma ciência “que estuda a atmosfera e suas interações com oceano, vegetação e demais componentes do sistema climático, no intuito de prover previsões de clima e tempo, e está fundamentada na Matemática, na Física e na Química. Os estudos meteorológicos abrangem processos físicos e químicos desde a escala temporal de curto prazo (horas) a de longo prazo (variações centeniais, aquecimento global).” Além disso, a previsão de tempo e os estudos climáticos fornecem apoio estratégico para eventos culturais, para o turismo, engenharia e arquitetura.

Capistrano destaca ainda a utilização de tecnologia advinda dos avanços computacionais para aprimorar a previsão do tempo e as projeções climáticas. “Outro ponto em que a Meteorologia se beneficia é no desenvolvimento de sensores a bordo de satélites. Com os satélites meteorológicos é possível estimar diversas variáveis ambientais como precipitação, temperatura, concentração de vários gases, bem como detectar focos de queimada de biomassa e monitorar o desmatamento”, afirma.

Formação em Meteorologia – Atualmente, a região Centro-Oeste é a única do país que não oferece curso de bacharelado em Meteorologia. Na região norte do país é possível cursar Meteorologia na Universidade Federal do Pará (UFPA) e na Universidade do Estado do Amazonas (UEA); na sudeste, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade de São Paulo (USP); na região nordeste, a Universidade Federal de Alagoas (UFAL) é a referência em meteorologia e, na região sul, a graduação é oferecida nas universidades federais de Santa Maria (UFSM), de Santa Catarina (UFSC) e na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

A inexistência do curso de graduação em Mato Grosso não limita a atuação dos profissionais no Estado. Físicos e engenheiros se especializam em determinadas áreas da meteorologia e exercem atividades nos setores públicos e privados.

O engenheiro agrônomo e conselheiro do Crea-MT, Alessandro Ferronato, é um desses profissionais. Atuando na área de Agrometeorologia, Ferronato concluiu o doutorado na UFMT e desenvolveu projetos e estudos com diversos profissionais, “como o estudo do desenvolvimento de plantas de adubo verde sob dossel de seringueiras com dois níveis de insolação para o controle de nematóides da seringueira, consumo de água em plantas nativas do cerrado, estudos de métodos de estimativa de evapotranspiração de referência, efeito da época de plantio no florescimento de crotalária juncea, efeito da época de plantio no florescimento da soja, consumo de água na cultura da soja transgênica, entre outros.”

Na entrevista a seguir, o conselheiro responde a outros questionamentos sobre meteorologia.

Crea- Quais as opções de atuação dentro e/ou fora da universidade para quem faz graduação, mestrado ou doutorado nessa área?

Ferronato – Em Mato Grosso não temos cursos de graduação em meteorologia, contudo, existem diversos cursos que apresentam disciplinas de meteorologia, como a agronomia, a engenharia florestal, a engenharia civil, a engenharia ambiental, dentre outros.

Na academia, portanto, a atuação da docência nesta área é bem limitada, mas amplia-se quando consideramos a atuação na pesquisa científica, pois é uma área do conhecimento demandada por diversas áreas, como a biologia, as ciências médicas, as ciências humanas, etc.

No mundo do trabalho o meteorologista encontra diversas oportunidades de trabalho em centros de pesquisa (EMBRAPA, Fundação Mato Grosso, INPE, etc) e em empresas que prestam serviços meteorológicos a produtores rurais e regiões urbanas, sendo que este último tem ganhado relevância por conta dos eventos extremos que tem acontecido na região sul e sudeste do Brasil. Além disso, os profissionais formados nas áreas citadas no primeiro parágrafo desta questão encontram oportunidades de empregar a meteorologia na produção agrícola (cuidados com as condições atmosféricas para a aplicação de defensivos agrícolas, definição do momento adequado para tráfego de máquinas na lavoura, predição da ocorrência de infecção de doenças, predição do desenvolvimento de estágios de desenvolvimento de insetos na lavoura, definição das épocas de semeadura e colheita, etc) e animal (conforto térmico, ambiência animal), desenvolvimento de projetos de construção que civil que proporcionem menores gastos de energia elétrica, monitoramento da dispersão de poluentes, etc.

Crea – É possível indicar os aspectos positivos e/ou negativos da agricultura (ou pecuária) relacionados ao clima? No caso de Mato Grosso, há alguma alteração?

Ferronato – Não tenho feito levantamentos sistemáticos sobre a prática nas lavouras de Mato Grosso para poder informar com precisão, contudo, com a vivência que tenho com alunos dos cursos de agronomia e engenharia ambiental e de algumas fazendas do Estado posso dizer que a área da aplicação de defensivos agrícolas é a que mais deixa de observar as condições meteorológicas na sua prática, o que pode trazer diversos problemas como o aumento do curso da lavoura, a ineficiência das aplicações, a contaminação ambiental pela dispersão dos produtos pela atmosfera, e outros.

Com relação às mudanças climáticas, tema tão abordado nos últimos 10 ou 15 anos, o que podemos afirmar por enquanto é que as alterações da cobertura natural que a agricultura e pecuária proporcionam para o seu desenvolvimento tendem a alterar significativamente as condições que chamamos de microclima e de mesoclima, ou seja, apresentam efeitos locais e dependendo da extensão efeitos regionais. Outro conhecimento que se tem é de que ambientes desprotegidos da cobertura natural e que por ventura o solo é constantemente revolvido, ou mesmo no caso de pastagens degradadas, há uma maior emissão de carbono para atmosfera em relação ao carbono sequestrado da atmosfera, o que contribui para o aumento da concentração de carbono na atmosfera global.

*Laís Costa
Gecom/Crea-MT
*Crédito da foto: Agência Brasil