Geógrafa Eliane Salete Sartor, de Guarantã do Norte, conta sua trajetória e comenta sobre o mercado de trabalho em MT  

6 de novembro de 2017, às 9h00 - Tempo de leitura aproximado: 8 minutos

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A geógrafa Eliane Salete Sartor Cavalheiro, nasceu na cidade de Cascavel/PR, em 1967. No ensino médio, no curso profissionalizante em Edificações, conheceu o jovem Samuel Quinteiro Cavalheiro, que em pouco tempo se tornou seu marido. No ano de 1987 com a chegada de um bebê, se aventuraram para Cuiabá, Samuel com emprego garantido e Eliane tomando conta da casa e do filho Alex Sandre, hoje com 30 anos. Algum tempo depois precisou trabalhar para ajudar no orçamento doméstico, inicialmente numa construtora, como desenhista, mas não sentia prazer naquela profissão. Na empresa conheceu o topógrafo Celestino Baratieri e logo começaram uma parceria. Celestino fazia o campo e Eliane os desenhos e memoriais descritivos de loteamentos urbanos. Na época nem se falava em computador, o desenho era na prancheta com esquadros, transferidor, papel vegetal, normógrafo – relíquias que ela guarda até hoje como símbolo do início da sua carreira profissional. Para imóveis rurais, interpretava em imagem de satélite em meio analógico, colocava o papel vegetal em cima e ia interpretando relevo, rede de drenagens, estradas, áreas exploradas e outros tipos de feições. Nascia ai uma geógrafa, mas Eliane nem se dava conta. Estudou, tomando gosto pela área e se aperfeiçoou. Atualmente, trabalha na área de geografia e geoprocessamento, é sócia-proprietária de uma empresa de prestações de serviços em Cuiabá, além de fazer parte do quadro técnico de um Centro Empresarial, em Guarantã do Norte.

1- Onde e quando se formou e, o que lhe motivou a fazer o curso de geografia?

Formei em licenciatura em geografia no ano de 2004 pela Univag. Depois fiz bacharelado em geografia na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e me formei em 2008. Fiz especialização em geoprocessamento e georreferenciamento (Fundetec) em 2008; mestrado em Ciências Ambientais pela (UTCD), concluído em 2012. O curso de geografia foi tão maravilhoso que acabei fazendo licenciatura e depois bacharelado, o que mais me motivou na profissão e que me fez aumentar meu conhecimento, foi o leque de opções que se abriu ao concluir o curso de geografia. Hoje, posso atuar desde a área de educação formal, até me envolver com trabalhos e estudos na área de ecologia e meio ambiente. O geoprocessamento aplicado à geografia fornece bases a inúmeros estudos, voltados às ciências da terra, pode subsidiar perícias técnicas. Hoje posso interagir com órgãos e entidades de fiscalização e proteção ambiental, órgãos de fomento, entre outros.

2- Qual sua área de atuação?

Atuo na área da cartografia digital/geoprocessamento, elaborando mapas a partir de imagens de satélite em conjunto com banco de dados geográfico. Recentemente aceitei o desafio de participar do corpo técnico de um grupo de trabalho, o qual tem como programa rural a sustentabilidade ambiental e a criação de novas Unidades de Conservação, como forma de compensação ambiental. As Unidades de Conservação possibilitam a população interagir com a natureza, seja de forma contemplativa, seja através de estudos mais diretos. Mato Grosso é o terceiro maior Estado em dimensões territoriais, e essa sua “grandeza”, propicia inúmeras possibilidades para se atuar na área de geografia.

3-Conte-nos um pouco de sua trajetória profissional como geógrafa?

Inicialmente comecei através de uma parceria com um topógrafo, onde atuava como desenhista/projetista. Anos mais tarde fomos convidados a fazer parte do quadro de funcionários de uma empresa de assessoria ambiental, onde tudo era computadorizado. Aceitei o convite e o desafio, pois sequer sabia ligar um computador. O gostoso é isso mesmo, enfrentar os desafios. Talvez deva correr no sangue de um geógrafo, ser curioso, observador, insistir. Tentar e tentar de novo e, de novo, quantas vezes forem necessárias pra chegar num resultado satisfatório. Em pouco tempo o número de funcionários foi crescendo e eu administrando cursos em diferentes empresas de assessoria ambiental. As portas foram se abrindo e novos desafios foram surgindo. Depois de minhas graduações, especialização e mestrado, conheci dois profissionais fabulosos que me deram a mão, assim como se ensina uma criança a andar. Ambos me ensinaram na prática tudo que havia ouvido em sala de aula. Hoje, agradeço às pessoas maravilhosas que fizeram parte do meu aprendizado, pois agora posso dar minha contribuição, por exemplo, na elaboração de estratégias para que nas regiões aconteçam ocupações com o mínimo de impacto possível ao ambiente. E isso é maravilhoso!

4- Quais foram as maiores dificuldades encontradas no mercado de trabalho?

Eu não diria dificuldades encontradas e sim desprezo ou preconceito. Por inúmeras vezes me perguntaram em que eu era formada, e eu respondo com muito orgulho, sou formada em geografia. Numa questão de segundos aquele olhar curioso se definha como se me diminuísse profissionalmente. Então, me pergunto: qual o problema? Ser formado em Geografia é poder, inclusive, ser professor de Geografia! Embora eu não atue como tal, dentro de uma sala de aula, eu tenho enorme orgulho de meus colegas de graduação, que escolheram a sala aula como meta profissional, pois transformaram a formação acadêmica em uma profissão que é um projeto de vida! Principalmente, porque em termos financeiros o professor no Brasil é muito mal remunerado pela função. E, ser professor de Geografia, é não esperar por nenhum tipo de reconhecimento pela sociedade. Porém, são esses profissionais que têm o compromisso com a constante construção do conhecimento e a formação de cada criança, de cada adolescente, que formarão a massa crítica dos cidadãos de nossa sociedade. Mas a Geografia, como disse anteriormente, abre um leque para a atuação profissional e trabalhos técnico-científicos voltados às ciências da terra. Está em alta no mercado e há uma carência de profissionais atuando neste setor.

5- O que você considera importante para se destacar nesta profissão?

Um geógrafo tem que ser curioso, observador, gostar de atividades fora de escritórios, de ter contato real e concreto com o espaço geográfico, com o território, com o meio ambiente. E, acima de tudo, compreender as dinâmicas sociais e naturais, pois nada é estático, tudo é um processo. Um processo de produção, construção e organização do espaço geográfico.

6- Como você vê, como geógrafa habilitada e registrada, a participação no CREA-MT? 

Meu comentário vai a nível estadual. Participar do CREA em Mato Grosso me possibilita atuar na minha profissão com mais segurança nas relações entre o objeto do trabalho, o cliente e a minha capacidade produtiva. Um exemplo disso, é a Anotação de Responsabilidade Técnica (ART), que para mim é um instrumento que me ajuda, inclusive, a impor certo respeito no meu exercício profissional; pois me torno responsável pelo produto que entrego àquele que me contratou e com o aval de um conselho, que tem como uma de suas funções a fiscalização. Apesar dos geógrafos serem muitas vezes substituídos por profissionais que apenas manuseiam “mouses” e interpretam apenas virtualmente imagens de satélites ou outros sensores remotos, como fotos aéreas, por exemplo, há necessidade de se realizar o reconhecimento real e concreto do espaço geográfico objeto da análise, pois a simples interpretação virtual pode ser errônea e causar prejuízos econômicos. Na área de perícias técnicas, por exemplo, é muito importante valorizar o trabalho do profissional cuja formação técnico-científica o tornou habilitado para tal.

7- A partir de sua experiência que conselhos você daria para os estudantes que ainda estão definindo o curso que irão fazer, aos que já estão fazendo Geografia e para os profissionais que estão entrando no mercado de trabalho?

O candidato ao curso de geografia pode optar por licenciatura e ou bacharelado. No caso da licenciatura, há bastante espaço na área educacional, tanto para ensino fundamental, médio ou superior e cabe a cada um escolher qual a faixa etária que melhor se adapte para desenvolver um bom trabalho. No caso de bacharelado, o mercado também é carente de profissionais. Entretanto, independentemente da pessoa optar por licenciatura ou bacharelado, ou ambos, como foi meu caso, há que se ter em mente que as dificuldades sempre existirão e quando se cursa as disciplinas que envolvem trabalhos de campo, o esforço será muito gratificante. Pois é a partir daí que se começa, de fato, a se ter entendimento das interações entre o estudo teórico, os conceitos, etc. e a realidade concreta, onde se tem a exata percepção da grandeza do objeto de trabalho do Geógrafo. Àqueles que já se formaram, que sejam bem vindos nesse universo maravilhoso chamado Geografia, logo, logo estarão empregados ou trabalhando como profissionais liberais, pois o mercado é amplo e cabe a cada um nós buscarmos o melhor lugar para atuar com confiança na sua capacidade. E, finalmente, mas não menos importante, meu conselho a todos que atuam na área de Geografia é que se atualizem sempre, pois como parte das Ciências da Terra, o processo de avanço técnico e tecnológico no mundo é um fato e não pode ser mais negligenciado.