Um novo discurso do setor madeireiro
21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 4 minutos
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Sátyro Pohl Moreira de Castilho, engenheiro civil, presidente do Crea-MT. Em 09/08/2004
Foi com agradável surpresa que ouvi o discurso de posse de Jaldes Langer, novo presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras do Norte de Mato Grosso (Sindusmad), com sede em Sinop, no final de julho. Logo no início do seu pronunciamento, Langer ressaltou:
Aos empresários, já não basta apenas empreender e produzir: há que se analisar o impacto de sua atividade. A sociedade exige cada vez mais o respeito na proteção e renovação dos recursos naturais.
O setor madeireiro no Estado é inegavelmente de grande importância social e econômica. Porém, sempre sofreu acusações de exploração irracional dos recursos naturais. Hoje, o setor madeireiro enfrenta a perspectiva de um futuro difícil, já que a matéria-prima, outrora abundante, está escassa. Há necessidade de investimento no manejo florestal, com a contratação de profissionais que relacionam o aproveitamento da madeira com a manutenção ambiental. O próprio Langer destaca:
É claro que temos um longo e árduo caminho de reconhecimento e humildade para com nossos próprios defeitos, erros e falhas. E também de audácia e coragem para corrigi-los, bem revisando nossas antigas estruturas, critérios e métodos.
Se Langer cortou na própria carne, também fez, em seu discurso de posse, uma defesa sóbria do setor madeireiro contra o denuncismo. Se há exploração irracional da madeira, também há um discurso equivocado sobre como deva ser a preservação da floresta amazônica. O que Langer aponta é que a discussão sobre a floresta amazônica não deve ser desassociada da realidade mundial. Veja:
Enquanto alguns organismos internacionais exercem forte pressão para a preservação da Amazônia, alguns governos de países tidos como desenvolvidos se recusam a assinar o Protocolo de Kyoto, que de forma branda procura disciplinar as emissões de gases poluentes que geram o efeito estufa e que, comprovadamente, estão afetando o clima do planeta. O efeito estufa é fruto do desenvolvimento econômico dos países do primeiro mundo e, neste caso, o efeito estufa acumulado nos últimos dois séculos foi majoritariamente provocado por Estados Unidos, Europa e Japão.
Mais à frente, o novo presidente do Sindusmad complementa:
Os 5% mais ricos da população mundial consomem 58% da energia disponível, enquanto os 50% mais pobres, menos de 4%.
Langer enfatiza o entendimento de importância do setor madeireiro para a sociedade brasileira, o que é fato. E discursa:
O mundo hoje se pergunta: terão o Brasil e os brasileiros condições de responder à altura ao desafio de implementar uma estratégia de desenvolvimento sustentável no bioma amazônico? De minha parte, posso lhes assegurar a plena confiança que sim. Mas, sobretudo, o Brasil tem o direito e a soberania de utilizar o pleno potencial de seus recursos naturais para o seu desenvolvimento econômico e social na busca de geração de emprego e renda para a melhoria da qualidade de vida de sua sociedade.
Ele continua:
Neste contexto, o Brasil tem plenas condições de, no correto alinhamento estratégico dos esforços públicos, privados, governamentais, não governamentais e comunidade científica, integrada ao bom empreendedorismo do setor de base florestal e suas experiências acumuladas, de desenvolver tecnologias a partir de uma linha de pesquisa aplicada aos negócios, com respeito ao meio ambiente, mas – sobretudo – respeito ao seu povo e a sua sociedade.
É, em suma, um discurso que prega a parceria entre os diversos setores ligados ao tema florestal, o que inclui o Crea-MT e suas profissões afins, notadamente a Engenharia Florestal. É um discurso que defende uma agenda positiva, otimizando os recursos e evitando sobreposições, em benefício de todos os envolvidos . É um discurso desafiador, um desafio necessário para que todos os atores desse processo repensem atitudes e verifiquem se estão à altura do debate. Setor público, incluindo o Crea, profissionais da área, empresários, ONGs devem olhar para o próprio umbigo e analisar as posições que têm sobre o tema e questioná-lsa, cortando na carne como fez o Sindusmad. Haverá diferenças, muitas diferenças, a serem solucionadas nesse debate, o que é natural, Porém, o setor madeireiro jogou a proposta de público para a parceria. Resta aos demais seguimentos abraçar esse projeto de avanço conjunto.
É necessário lembrar que o Sindusmad é, certamente, um dos mais fortes sindicatos patronais de Mato Grosso, com grande peso político na região Norte, exercendo influência sobre demais sindicatos madeireiros. Da mesma forma, o Sindusmad tem cadeira de expressão na Federação das Indústrias do Estado de Mato Grosso (Fiemt) e, através da Fiemt, pode alcançar a Confederação Nacional das Indústrias (CNI). É sem dúvida um caminho que pode ser percorrido pelos atores em conjunto. Vamos ao debate saudável, portanto.
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