Está vendo aquele edifício, moço?
21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 2 minutos
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Sátyro Pohl Moreira de Castilho, engenheiro civil, presidente do Crea-MT. Em 25/10/2004
25 de outubro é a data em que se comemora o Dia do Trabalhador da Construção. Momento propício, portanto, para algumas considerações sobre o trabalho do engenheiro, do arquiteto e do técnico, profissionais que comandam o canteiro de obras. Precisamos trabalhar em parceria com o operário de canteiro de obras. Mais do que chefes, temos que ser líderes. O momento da ditadura na obra já passou.
A liderança se difere da mera chefia. Ser líder é ter uma visão global da relação entre o homem e o seu ambiente de trabalho. É saber ensinar e, fundamentalmente, aprender. O engenheiro, arquiteto ou técnico que chega a um canteiro de obras sem a noção do quanto pode aprender estará fadado a ter percalços em sua vida profissional e a perder a concorrência do mercado de trabalho. O sistema construtivo é um processo que, inclusive, nos primórdios, teve origem no trabalho conjunto e solidário.
Sabemos que as faculdades ou cursos técnico-profissionalizantes normalmente não destinam grande tempo para treinar o futuro engenheiro, arquiteto ou técnico como um líder. Não é uma questão de impor respeito, e sim de conquistar o respeito profissional, o que trocando em miúdos é o mesmo que conseguir ser líder de base sólida, e não mero chefe que qualquer brisa derruba.
Para desenvolver a liderança, o profissional possui a bagagem de conhecimento técnico. Mas não basta. Para ser líder, é fundamental a noção de que o trabalhador da construção possui família, filhos, esposa, pais… é essencial lembrar que aquela pessoa sob as suas ordens é amada e imprescindível para os seus.
Não estamos mais em épocas onde o preconceito possa ser tolerado. O trabalhador da Construção, há alguns anos, tinha que atuar em canteiros de obras de elevado risco de vida, sem água potável, sem refeitório, sem equipamentos básicos de proteção. A evolução da engenharia e da medicina do trabalho, no entanto, foi imprescindível para alterar tais situações, culminando com as normas regulamentadoras do Ministério do Trabalho, que colocam ordem no canteiro. Louva-se logicamente a Delegacia Regional do Trabalho que, embora com poucos recursos humanos, tem atuado firmemente em defesa das condições dignas no canteiro de obras. E, é claro, essa evolução não teria ocorrido sem a participação de engenheiros, arquitetos e técnicos insatisfeitos com as condições de penúria que envolviam o trabalho na indústria da construção em praticamente todo o país há alguns anos.
Nesta semana, portanto, vamos lembrar o quanto o trabalho do engenheiro, do arquiteto e do técnico se edifica com as mãos do operário da construção. Está vendo aquele edifício, moço? Ajudei a levantar…, cantava Zé Geraldo nos anos 70. Na verdade, o trabalhador da construção ajudou e ajuda a levantar muito mais do que um edifício. Sem qualquer exagero, é possível dizer: o desenvolvimento do país passa pelas mãos do trabalhador da construção.
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