Profissionais defendem que rebaixamento da rede de energia beneficiaria cidade
19 de agosto de 2013, às 14h36 - Tempo de leitura aproximado: 6 minutos
Tirar dos postes toda a fiação aérea – elétrica, telefônica e de TV a cabo-, transferindo-a para um sistema subterrâneo de cabeamento. O financiamento para esta mudança, cujo custo é elevado, talvez seja o maior desafio a vencer, mesmo sendo parcialmente compensado com um menor custo da manutenção do sistema subterrâneo ao longo do tempo. Por outro lado, existe legislação desde 2005 que obriga as concessionárias a enterrarem a fiação. Alguns benefícios que podem ser enumerados: evitar interrupção do fornecimento de energia devido a queda de galhos na rede elétrica, ampliação do espaço de circulação nas calçadas com a remoção de postes, além da paisagem ficar com um aspecto bem melhor.
Mato Grosso começa a dar início a projetos de rebaixamento da rede de energia elétrica, com o objetivo de oferecer segurança, valorização imobiliária e despoluição visual da área urbana. Os primeiros passos já foram dados na capital mato-grossense com a construção de redes subterrâneas de distribuição de energia elétrica para a passagem do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que está sendo implantado em Cuiabá e Várzea Grande pelo governo estadual como uma das obras para a Copa de 2014.
Até então o único local de Cuiabá contemplado com a rede subterrânea era a Praça do Bispo Dom José, que possui um dos mais antigos chafariz denominado Mundéu, que foi construído em 1871 em estilo Neoclássico, e tombado como Patrimônio Público Estadual.
Seguindo o exemplo de grandes centros urbanos como São Paulo, Goiânia, Maringá e Foz do Iguaçu, alguns condomínios residencias em Cuiabá já tiveram seus projetos de cabeamento subterrâneo aprovados pela concessionária de fornecimento de energia.
O centro histórico cuiabano também já está autorizado a rebaixar toda a fiação que impede a expressividade da força cultural local e aguarda pronunciamento da presidente da república Dilma Rousseff quanto à liberação de verba por meio do Pac Cidades Históricas, em parceria com o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), e com a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).
De acordo com o presidente da Associação Mato-grossense de Engenheiros Eletricistas (AMEE), Edson Domingues de Miranda, as vantagens do cabeamento subterrâneo são inúmeras e os custos já não são tão elevados quanto antes. “Os benefícios e vantagens da rede de energia subterrânea compensam os investimentos que são relativamente altos ainda, mas que com os avanços tecnológicos tendem a diminuir cada vez mais.”
Segundo especialistas, tecnicamente a composição da rede subterrânea se assemelha ao sistema aéreo. A estrutura envolve condutores elétricos, transformadores e demais equipamentos. Porém, em vez de postes, ela depende de dutos enterrados para a instalação de cabos e de câmaras subterrâneas para abrigar transformadores e chaves.
No entanto essa técnica exige profissionais com treinamento e qualificação diferenciada, além de equipamentos especiais para localização de falha e diagnóstico de cabos, o que não ocorre em Mato Grosso atualmente. “A Rede Cemat já possui normativa de projetos de construção de rede de distribuição subterrânea para condomínios fechados e daqui para frente a modernização será um processo inevitável, pois o desempenho técnico do cabeamento subterrâneo é muito melhor”, declarou o presidente da AMEE.

No interior do Estado, municípios como Sorriso, Sinop e Nova Mutum também já se planejam para implementar essa mudança em busca de valorização imobiliária.
PRÓS E CONTRAS – Dentre os benefícios e vantagens do rebaixamento da rede elétrica pode-se destacar o aumento da segurança da população, uma vez que as redes aéreas de distribuição de energia estão vulneráveis a acidentes; a melhora do aspecto visual urbano, valorizando áreas históricas e imóveis e fomentando o turismo e o comércio local. O aspecto ambiental também é valorizado, pois sem os condutores elétricos para disputar o espaço aéreo torna-se possível manter mais árvores nas ruas.
Contudo, os produtos para redes subterrâneas precisam contar com alto grau de confiabilidade e tecnologia de ponta, para evitar que acidentes trágicos, como a explosão de bueiros que ocorreram no Rio de Janeiro, venham a ocorrer também em Cuiabá, uma vez que se trata de uma capital que registra altas temperaturas o ano todo. Estudos americanos apontam que o isolamento dos cabos elétricos, ao ser deteriorado por temperaturas acima das recomendadas pelos fabricantes, libera gases inflamáveis que podem ficar acumulados nos dutos e caixas, servindo de fonte de ignição para explosões.
Outro grande entrave para a adoção da modalidade subterrânea, continua sendo os custos das obras e a legislação que esbarra no impasse entre governo e concessionária, que não concordam em arcar sozinhas com as despesas para a substituição do modelo de distribuição. De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica a elevação do custo de mudança do sistema impactaria diretamente o valor da tarifa de energia elétrica ao usuário final, embora as redes subterrâneas tragam benefícios incontestáveis.
Em alguns Estados como São Paulo e Paraná a iniciativa em parceria público-privada tem se mostrado um caminho viável para a viabilidade de projetos, sem falar que em decorrência da Copa de 2014, há empresas dispostas em dividir os custos da construção de galerias subterrâneas, o que facilitaria as negociações para um reconfiguração das cidades-sedes.