Meus alunos são frutos do meu trabalho, são o meu pomar
27 de agosto de 2014, às 18h32 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos
Há 33 anos, desde quando chegou a Cuiabá para dar aulas na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), uma inquietação incomoda João Pedro Valente, um paulista de nascimento, formado em agronomia com especialização em fruticultura: “Por que a fruticultura, uma área tão promissora e viável, principalmente para os pequenos e médios produtores rurais, não ganha espaço na agricultura do estado?"
A oportunidade de rastrear questões que vão além das características agropecuárias de Mato Grosso – o maior produtor nacional de grandes culturas, como algodão, soja e milho – surgiu com a possibilidade de organizar o XXIII Congresso Brasileiro de Fruticultura, em Cuiabá, capital do estado.
“Acreditei que o Congresso seria uma oportunidade de colocar, na ordem do dia, tudo o que envolve o desenvolvimento da fruticultura no país”, confessa Valente, um apaixonado pela profissão. “Adoro ser professor. O meu produto é o profissional formado. Fruto do meu trabalho”.
E é atrás de respostas que João Pedro Valente caminha entre estandes, salas com minicursos, apresentações orais, procurando atender às demandas de um evento que reúne cerca de 600 participantes.
Fiscalização: agente positivo
“Dos 148 mil produtores rurais do estado "onde o solo é espetacular", 42 mil são de médio e grande portes, e especialmente o setor de fruticultura é afetado por uma logística de transporte falha e baixa densidade populacional”, informa Valente, que acrescenta que seis das cinco frutas mais produzidas no país saem de Mato Grosso: banana, melão, abacaxi, uva e mamão.
Valente também revela que a maioria dos pequenos agricultores é formada por famílias de assentados que não têm tradição agrícola e a falta de mão de obra especializada para prestar assistência técnica reduz as chances desses produtores conseguiram obter maior rentabilidade da terra. “A pequena propriedade não se adequa às commodities. O pequeno produtor não compra máquina e a fruticultura é uma alternativa, mas seu desenvolvimento emperra também em função do gargalo tributário. Cada cacho de banana exportado garante 12% de ICMS para o governo. É preciso revisar a tributação”, defende.
Para Valente, a fiscalização do Sistema Confea/Crea pode ser um agente positivo: "A constatação de que não há um profissional habilitado dando assistência às unidades produtivas pode forçar a contratação de técnicos em extensão rural".
Momento certo
Em entrevista concedida ao site do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, João Pedro Valente falou da “força fundamental” do Sistema Confea/Crea na realização do evento: “Quando nem a instituição em que trabalho acreditou, ao contrário, o Crea-MT e o Confea disponibilizaram recursos financeiros e de pessoal, acreditando que este é o momento certo e uma oportunidade única”. E é nesse contexto que o professor conseguiu inserir a fruticultura na ordem do dia.
Assim que terminou a entrevista, Valente reuniu ex e atuais alunos para uma foto em frente ao estande do Confea, na feira tecnológica montada no Centro de Eventos do Pantanal, que abriga a 23ª edição do Congresso de Fruticultura.