Fumaça de ônibus vira matéria-prima para pneu

18 de junho de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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O engenheiro mecânico Sergio Sangiovani cansou da fumaça preta dos ônibus e caminhões que ele multava diariamente quando trabalhava como fiscal de meio ambiente na região do ABC paulista. Decidiu, então, encontrar uma solução para o problema. Com ajuda do físico Paulo Roberto da Conceição, começou a desenvolver um filtro de poluentes para ônibus. Oito anos depois, dão agora os primeiros passos para transformar a invenção em negócio.

Os filtros estão funcionando experimentalmente há dois anos em 60 ônibus que circulam em Diadema, na grande São Paulo. Conforme as medições feitas em parceria com o Laboratório de Poluição Atmosférica da Universidade de São Paulo (USP), o equipamento retém até 70% dos poluentes gerados a partir da queima do óleo diesel, que é mais “sujo” do que outros combustíveis usados em veículos, como o álcool ou a gasolina.

Até dois meses atrás, o maior problema dos pesquisadores era encontrar um destino para todo o pó preto que fica preso nos filtros. Mas depois de alguns testes eles constataram que o resíduo, que é tóxico, pode virar pneu. No dia 1º de junho, uma leva de 12 pneus foi recauchutada com a matéria-prima e entregue à mesma empresa de ônibus que já utiliza os filtros. “Agora estudamos o uso dos resíduos em outros produtos”, afirma Conceição. “Já estamos fazendo testes para fabricar peças de borracha para automóveis.”

Por semana, cada um dos ônibus gera cerca de 700 gramas do pó preto – tecnicamente chamado de material particulado -, que é composto por carbono, metais e substâncias como o enxofre. “Com o uso nos pneus, conseguimos fechar o ciclo do resíduo”, diz Conceição. “Antes, ele ia para um aterro ou para o esgoto, quando os filtros eram lavados.” Com três quilos da matéria prima é possível recuperar 12 pneus.

Os pesquisadores querem gerar receita promovendo os filtros como um meio para que as empresas compensem suas emissões de gases poluentes. “Hoje as empresas plantam árvores, mas os filtros têm a mesma função”, diz Conceição. Outra fonte de receita deverá ser a comercialização do material particulado. Por enquanto, os pesquisadores não pretendem ganhar dinheiro com a venda dos filtros e estudam um modelo para oferecê-los às empresas de ônibus em regime de comodato.

Segundo Conceição, a tecnologia dos filtros ainda não pode ser substituída por um catalisador comum enquanto a concentração do enxofre no diesel brasileiro não for reduzida. Isso porque o filtro retém a substância enquanto o catalisador a lança na atmosfera. Já existe, no entanto, uma portaria municipal determinando que a partir de 2008 todo o diesel vendido em São Paulo deverá ter enxofre em quantidade reduzida, suficiente para permitir o uso de outro tipo de equipamento. “Existe dúvida sobre o que vai acontecer, mas o filtro continuará sendo uma alternativa”, diz Conceição.

Dentro de alguns dias, os pesquisadores irão à Secretaria do Verde e Meio Ambiente da cidade de São Paulo para promover a idéia de instalar filtros nos três mil ônibus da capital. O estímulo para a aproximação com a Prefeitura foi dado com o início da segunda fase do projeto Cidade Limpa, que estabelece um programa de inspeção de veículos, cujo objetivo é reduzir a poluição atmosférica na capital em cerca de 40% nos próximos quatro anos.

Sangiovani e Conceição querem agora desdobrar a invenção em outros produtos. Os pesquisadores fundaram recentemente a WGP em sociedade com a empresa de sistemas térmicos Heating Cooling. O objetivo é pesquisar novas tecnologias. “Já temos dois projetos, um é adaptar os filtros dos ônibus para caminhões e outro é criar um equipamento para reduzir a poluição das usinas termelétricas”, diz Conceição. Com a WGP, uma sociedade anônima, os inventores planejam obter financiamentos para esses projetos.

Fonte: Valor On-line.