COBERTURA VERDE EM VEZ DE HERBICIDA

30 de maio de 2007, às 0h00 - Tempo de leitura aproximado: 3 minutos

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O citricultor Paulo Sergio Moreira Junqueira, de Mococa (SP), não aplica herbicida em seus 105 hectares de laranja há seis anos e garante que sua produção nunca esteve tão boa. ‘De 1998 para 1999 notei queda da produção e fui buscar uma explicação’, conta ele, que hoje produz, em média, 970 caixas de 40,8 quilos/hectare, ante 560 caixas/hectare produzidas quando ele ainda aplicava 1200 litros de herbicidas/ano.

Junqueira faz parte do grupo de cerca de 50 produtores que passou a adotar um manejo diferenciado no pomar, que substitui total ou parcialmente a aplicação de herbicidas por cobertura verde. O manejo é baseado em pesquisas conduzidas pelo Instituto Internacional de Nutrição de Plantas (IPNI), que buscava entender por que culturas de milho, soja e citros não respondiam à adubação após a suspensão do uso de glifosato, herbicida sistêmico não seletivo (mata qualquer tipo de planta) usado em plantio direto e culturas perenes.

‘O uso indiscriminado pode estar favorecendo o aparecimento de pragas e doenças e reduzindo a resistência à seca, devido ao mau desenvolvimento radicular das plantas’, diz o diretor do IPNI, Tsuioshi Yamada, com base na literatura científica e em ensaios realizados por produtores e estudantes. ‘É essencial estimular o uso cauteloso para produzir com segurança.’

O IPNI tem convênio empresa-escola com a Esalq/USP, que permite o intercâmbio de informações entre instituto, estudantes e professores, e difunde o manejo entre produtores de vários municípios do Estado.

PLANTIO DIRETO

Yamada explica que o manejo alternativo segue os conceitos do plantio direto na palha. ‘A idéia é ter o mato como aliado, aproveitando-o como adubo verde, fonte de matéria orgânica e reciclador de nutrientes.’ Com a roçadeira ‘ecológica’ – calcula-se que 80% dos citricultores paulistas já tenham o equipamento – o mato é jogado da ‘rua’ para debaixo da saia das árvores. Esta cobertura evita perda de umidade do solo, inibe a brotação de plantas invasoras e ainda libera nutrientes minerais.

Yamada recomenda adubar o mato que será cortado e usado como fertilizante. A dica é aproveitar o mato ‘que já está aí’ – no caso, as braquiárias – e fazer calagem, adubação completa (nitrogênio, fósforo, potássio e micronutrientes) e aplicar gesso. ‘Quando o sistema estiver com alto teor de matéria orgânica o produtor pode cultivar outras espécies além das braquiárias, como amendoim forrageiro, ervilhaca e nabo forrageiro.’

‘ESPONJA’

Segundo o engenheiro agrônomo Marcio Antonio Storto, pomares convencionais recebem cerca de 3 litros de glifosato/hectare duas vezes por ano. ‘Ele é neutralizado no solo, mas não na planta. Passa do mato que está morrendo para a planta que está nascendo.’

Storto, produtor de tangerina em Leme (SP), parou de usar glifosato em 2003, após de notar queda acentuada de frutos 20 a 30 dias depois da aplicação do herbicida. ‘Cheguei a perder 20% da produção.’ Hoje, com o novo manejo, diz que a produtividade cresceu 30%. ‘Aplico gesso, calcário, boro e passo a roçadeira ecológica, que deposita o mato embaixo da árvore e serve de adubo.’ Storto, que tem área de 9 hectares, produz cerca de 30 toneladas da fruta por ano.

Junqueira compara o solo coberto com matéria orgânica a uma esponja. ‘Um grama de matéria orgânica retém 6 gramas de água no solo.’ Ele conta outra vantagem do solo coberto: ‘Antes, um conjunto de pneus durava até 3 mil horas de trabalho; hoje, a mesma máquina está indo para 12 mil horas de trabalho.’

Informações: IPNI, tel. (0–19) 3433-3254

Fonte: O Estado de São Paulo