A saúde e o meio ambiente – uma ligação séria

21 de agosto de 2012, às 15h12 - Tempo de leitura aproximado: 5 minutos

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Marçal Rogério Rizzo (*), Fernanda da Conceição Matoso (**) e Elizângela Cristina Martins Fernandes (***)

O estado de saúde ou de doença de uma sociedade pode ter várias explicações, e isso já vem ocorrendo há milhares de anos.

O texto “Saúde e ambiente” de autoria de Cristiane Maria Barcellos Magalhães da Rocha e de Idael Christiano de Almeida Santa Rosa (Univ. Fed. de Lavras) contribui com esta afirmação dizendo que, há 20 mil anos, o homem de Crô-Magnon acreditava que as doenças eram explicadas pela introdução de maus espíritos e, portanto, as curas ocorriam com a realização de rituais de magia e poções para libertarem estes maus espíritos. O feiticeiro era o responsável pela busca da cura.

Já na Idade Média, o homem passou a entender que a saúde era uma dádiva de Deus e que a doença era um castigo divino. Em virtude disso, a religião se fortalece, os “médicos” passam a ser vistos como sacerdotes e as curas como vontade divina.

Ainda na Idade Média, com o aparecimento das feiras e dos burgos, há um incipiente processo de urbanização desordenado que favoreceu a aparecimento das pestilências, pois não havia a infra-estrutura adequada para a vivência urbana.

Com o passar dos anos e após muitos estudos realizados, o homem descobre os microorganismos (os parasitas e as bactérias) e, já no século XIX, descobre os vírus. Outra descoberta importante para os estudiosos da saúde é que a existência de desequilíbrios no ambiente pode levar o homem à enfermidade.

Deste modo, é impossível discutirmos a saúde pública sem falarmos da sustentabilidade ambiental, em especial do meio urbano. No caso do Brasil, a população das cidades tem aumentado de forma exagerada e ocupado o espaço urbano de forma desordenada. Em 1945, a população que vivia nas cidades brasileiras correspondia a 25% da população total. Já o censo demográfico do ano de 2000 mostra que a população urbana passou a representar 82% dos 169 milhões de habitantes. O êxodo rural tem sido a principal causa do inchaço das cidades. A população, por falta de oportunidades no campo, vem para as cidades e ocupa o espaço sem planejamento e controle.

Agora, será que o nosso sistema de saúde e de vigilância sanitária acompanhou essa mudança brusca da sociedade?

Uma matéria intitulada “Jeca Tatu, o Retorno”, publicada na Revista Carta Capital de 13 de junho de 2007, de autoria de Rodrigo Martins, vem apresentar o grave problema que a saúde pública brasileira vem passando.

A matéria mostra que doenças infecciosas e parasitárias que deveriam estar erradicadas há décadas no Brasil vêm ressurgindo. Isso tem ocorrido por falhas nos programas de vigilância e controle, ou por negligência e “falta de interesse da indústria farmacêutica, por não obter altas taxas de lucro combatendo as mesmas”.

Estamos presenciando, todos os anos, os novos surtos de dengue, de malária, de hanseníase, de tuberculose, de doença de Chagas e de leishmaniose visceral entre outras enfermidades.

No entanto, há um fator agravante, já que estudos mostram que a ocorrência de tais doenças sempre é mais comum em comunidades pobres, devido às precárias condições de habitação, o que tornam as mesmas mais vulneráveis. A classe mais pobre é a vítima das velhas patologias.

Ainda, o texto de Rodrigo Martins vem ao encontro da necessidade de investimentos em infra-estrutura, uma vez que os dados do “Relatório de Desenvolvimento Humano 2006, feito pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), 25% da população brasileira (ou 51,8% dos domicílios) não têm acesso ao esgoto ou à fossa séptica. A coleta de lixo também é benefício para poucos. Apenas 36% das casas contam com o serviço”.
No caso de enfermidades como a leishmaniose e da dengue têm ligação direta com a limpeza pública. Matagais e áreas que acumulam contribuem diretamente para o aumento de casos de leishmaniose e a água parada em recipientes amplia o número de casos de dengue. Existem falhas nos programas de controle e vigilância sanitária.

Entretanto, a população também não faz a sua parte, pois joga lixo em lugares inadequados, deixa acumular água em recipientes, não limpa os terrenos baldios entre outras ações. A informação junto da população é de fundamental importância, pois a falta de conscientização só traz agravantes.

Outro fator que dificulta a melhoria da saúde pública do Brasil é a escassez de recursos, que acaba retardando o diagnóstico, fato que, em algumas doenças, como a hanseníase, diminui as chances de o tratamento surtir efeito ou, no pior dos casos, não há nada a fazer.

Este problema de escassez de recursos com a saúde pública é algo antigo. Rocha e Santa Rosa (no texto “Saúde e ambiente”) mostram que “os gastos com saúde eram, porém, irrisórios. O orçamento de 1889 destinava à higiene pública parcos 597 contos de réis, o que correspondia a 0,4% do orçamento, enquanto eram destinados 19,6% para a Marinha e Guerra, 37% para vias férreas […]”.

Devemos lembrar que a indústria farmacêutica também possui sua parcela de culpa, por não dar a devida atenção às pesquisas de novas drogas e medicamentos para essas enfermidades, pois não geram um lucro tão alto, uma vez que os governos e a iniciativa privada direcionam os investimentos às pesquisas que geram altos lucros.

Os homens públicos de plantão devem olhar com mais atenção para as ações que envolvam o meio ambiente e saúde. É inegável que exista uma ligação “umbilical” entre essas áreas, pois o meio ambiente é o gerador de saúde ou de doença de uma sociedade!

* É economista, professor universitário, mestre em Desenvolvimento Econômico pelo Instituto de Economia da UNICAMP e doutorando em Dinâmica e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) Campus de Presidente Prudente (SP).

** Acadêmica do curso de Administração na Universidade Federal da Grande Dourados/MS (UFGD).

*** Graduada em Análise de Sistemas pela Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) e acadêmica do curso de Administração na Universidade Federal da Grande Dourados/MS (UFGD).